1 de Dezembro de 2020
Restauração da independência – 1.º de dezembro
A notícia da Restauração em Beja, ocorreu no dia 5 de Dezembro de 1640, na ata de vereação desse mesmo dia, o escrivão da Câmara Francisco Fialho Guedes descreve o grande entusiasmo com que a nobreza e o povo de Beja vitoriaram o nova rei português. Este registo é um verdadeiro “Auto de Aclamação” em Beja o qual se passa a descrever:
“ Ano de nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil de mil seiscentos e quarenta, aos cinco dias do mês de Dezembro de 1640, nesta cidade de Beja, nas Casas da câmara, sendo presentes o Doutor Manuel Cabral, juiz de fora dos órfãos desta cidade que nela também serve de Juiz de fora, e Mateus de Brito Godins e Fernão de Sousa Castel Branco, vereadores e o Doutor António de Azevedo Pina, Corregedor desta cidade que em ela e sua comarca serve de corregedor, sendo presentes, logo na dita câmara foi apresentado por mão própria uma carta de que dizia ser escrita em Vila Viçosa, a dois dias do mês presente, a qual vinha assinada com um sinal do rei, e continha como em Lisboa e outras terras tinham levantado por rei deste reino a D. João IV, deste nome duque de Bragança […] e vista e lida a carta logo pelos ditos juiz, vereadores e corregedor da comarca mandaram por muitas partes chamar a nobreza desta cidade e gente da governança dela […] e logo o dito corregedor leu a todos a dita carta de sua Majestade, e vista por todos a dita carta, deram vivas a EL Rei D. João o quarto deste nome duque que foi de Bragança, e em sinal de demonstração de alegria, se mandaram fazer as solenidades na forma de alegria que adiante se consignarão, e em princípio se fez este auto que todos assinaram com o Doutor Miguel Jácome Esquivél, vigário geral da cidade que se achou também presente e eu Francisco Fialho Guedes, escrivão da câmara o escrevi. E logo pelo vereador mais velho, Mateus de Brito Godins, fidalgo de sua Majestade, foi tomada a bandeira real desta cidade e arvoro-a da janela desta câmara, a nobreza e o povo que todos juntos deram vivas/digo e alvorada desta Câmara na janela dela, pelo dito vereador em nome desta cidade disse “ Viva e Viva a El Rei D. João o quarto duque que foi de Bragança e ora nosso rei de Portugal”. E por todos em altas vozes foram dados os mesmos vivas com sinal de alegria de grandes demonstrações, declaro que o próprio que deu a dita carta disse chamar-se Martim Figueira Pereira, eu Francisco Guedes, escrivão da Câmara o escrevi”.
Em nota final ao auto de aclamação o escrivão Francisco Fialho Guedes declarou, “que a todo o sob dito se achou presente o Procurador do Povo, Custódio Dias”.
Segue-se depois, escrito com tinta mais escura a mais miúda “A qual carta de sua Majestade se registou no livro de provisão desta câmara a folhas sento e trinta e seis. (fl.110)
No final da vereação segue-se uma lista extensa de assinaturas, que refletem a estrutura institucional camarária assim como a “gente da governança” da cidade de Beja. Assinaram primeiro os oficiais régios da administração periférica, o Corregedor interino, o Juiz de fora e dos Órfãos, o Provedor Doutor Jacinto Lopes Machado, não se achou presente. Seguem-se depois os Vereadores, o Vigário Geral o Dr. Miguel Jácome Esquivél, o Procurador do Povo e mais gente da cidade. Surgem também as assinaturas de Manuel Pegas de Beja, Francisco da Costa Alcoforado e Jerónimo de Carvalhal Freire entre outras.
Mais tarde, conforme consta do livro nº.4 do Registo de Provisões (fl.1v), D. João IV enviara aos bejenses duas cartas, ambas datadas de Lisboa. Uma datada a dia dez e outra a doze de Dezembro. Na primeira carta, recomendava-se que não demorassem na aclamação, caso ainda não o tivesse feito. A segunda carta é a agradecer ao juiz, vereadores e procurador da câmara de Beja o terem-no aclamado rei a 5 de Dezembro.
D. João IV estava já aclamado há cinco dias, quando escreveu para Beja a lembrar que dilatassem a cerimónia de aclamação. Beja é pois, uma da primeiras cidades a manifestar-se
O relato escrito na vereação de terça – feira, dia 11 de Dezembro das cerimónias que tinham siso efetuadas no Domingo anterior, dia 9 de Dezembro, demonstra-o. “ Avulta nesse dia uma grande procissão realizada na igreja do Salvador, após missa cantada e pregação com a governança e a nobreza da terra incorporados saiu a dita procissão com toda a solenidade acompanhada desta câmara por detrás da bandeira real onde o valoroso Mateus de Brito Godins desfraldava a bandeira Real e, a espaços abraçando-a, aclamava o rei, secundado pelo clamor da multidão e pelo estrondo da arcabuzaria, e nesta forma se tornou a recolher à dita igreja, acompanhando a dita procissão a infantaria da cidade (fl.111v e 112).
Para além desta procissão, as comemorações envolveram também diversas festividades e iluminárias que se prolongaram durante vários dias.
O juramento solene do monarca ocorreu no dia 15 de Dezembro de 1640.
Cotas dos Documento: PT-ADBJA-AL-CMBJA-B-A-001-001-LIV.055-CX.0008