6 de Novembro de 2020
Dia Mundial dos órfãos – 9 de novembro
Dia Mundial do Órfão
O dia 9 de novembro é designado o “Dia Mundial do Órfão”. Para assinalar este dia, o Arquivo Distrital de Beja dedica a divulgação de dois documentos referentes ao tema e um pequeno texto explicativo da data que hoje se assinala.
O primeiro documento intitulado “Nota de todos os abandonos de crianças que tiveram lugar no concelho supra perante o mês de Fevereiro de 1877”, faz parte do fundo documental do Governo Civil de Beja, da série de Correspondência Recebida do Administrador do concelho de Ourique.
No documento consta a seguinte informação: o dia e a hora em que a criança foi encontrada; o sexo; a idade que aparentava ter; os sinais que a distinguiam e/ou declaração escrita que a acompanhou; o vestuário/roupas que trazia vestida de forma detalhada; o nome das pessoas que a encontraram, e o destino da mesma (hospício), assim como o número de matrícula ou seja o número em que esta foi inscrita num livro próprio para o efeito.
Cota do documento: Fundo: GCBJA/Correspondência Recebida do Administrador do concelho de Ourique de 1877.
O segundo documento é referente a um assento de batismo datado de 12 de março de 1909 de uma criança exposta/abandonada do sexo feminino a quem foi dado o nome de Gabriela.
Esta criança foi encontrada por Maria Anunciada no Monte do Fialho dentro de uma alcofa às duas horas da madrugada do dia 11 de março, não aparentado ter mais de 2 dias de idade e não trazia consigo “cousa ou sinal” digno de ser mencionado. Foi matriculada no livro de matrículas de expostos da Câmara Municipal com o número quinhentos e quinze.
Cota do documento: PT/ADBJA/PRQ/ADV01/001/00001/m_0024
O Arquivo Distrital de Beja como detentor da guarda, memória, identidade e história do concelho têm nos seus fundos documentais muita informação referente às crianças expostas e abandonadas no concelho. Podemos salientar os fundos entre outros os fundos documentais de onde foram retirados estes documentos, nomeadamente os livros paroquiais, o fundo do Governo Civil de Beja, e ainda o mais importante o fundo da Junta Geral do Distrito. https://digitarq.adbja.arquivos.pt/details?id=1025554
“A Verdadeira Solidariedade começa onde não se espera nada de Troca”Antoine de Saint -Exupéry
A palavra Órfãos deriva do latim “Orphanus “ e significa “aquele que perdeu os pais” ou em sentido figurado “o que está ao abandono” ,“desamparado”, “desvalido”, o que foi “privado de possuir algum carinho”.
As guerras, a fome, as doenças, a pobreza e a vergonha são a maiorias das causas do abandono de milhares e milhares de crianças.
A data que hoje se assinala foi criada pela Stars Foudation. Esta Fundação foi recebendo o apoio de vários governos e instituições ao longo dos anos.
Nesta data faz-se um apelo às comunidades em prol da causa dos órfãos, de todas as crianças sem pai, sem mãe, abandonadas que existem por todo o mundo.
No dia 12 de Dezembro comemora-se também o “Domingo do Órfão”. Esta data teve a sua origem na Zâmbia e o seu objetivo é o de partilhar amor pelas crianças abandonadas por todo o mundo.
Nestes dias as pessoas são incentivadas a ajudar os órfãos através de diversas iniciativas de divulgação e apoio á causa, tais como: donativos a orfanatos locais, recolha de fundos, voluntariado, doação de roupas, partilha de refeições, peditórios ou ainda a realização de eventos de beneficência para angariar fundos e o apadrinhamento ou a adoção de um órfão.
Segundo dados estatísticos de dois em dois segundos, ao redor do mundo, uma criança perde o direito de pertencer a uma família e a ter uma vida normal.
Em Beja a iniciativa em prol destas crianças abandonadas deveu-se a uma ilustre e nobre senhora chamada Mariana de Assunção Nunes e Castro, que em memória do seu falecido marido fundou a Instituirão Particular de Solidariedade Social que hoje se denomina “Fundação Manuel Geraldo de Sousa e Castro”.
Esta Sociedade foi instituída através do testamento de Dona Mariana, lavrado no dia 27 de Abril de 1945 em Lisboa pelo notário Eduardo Caetano Nunes, nele foram delineadas todas as instruções para a implementação, organização e funcionamento do Então denominado “Asilo da Infância Manuel Geraldo de Sousa e Castro” (cota do documento: PT/ADBJA1/007-001/CX.0001/LIV.0002).
Para o efeito e segundo as suas palavras mandou “construir uma casa apropriada num terreno aforado, situado na Estrada da Circunvalação da cidade de Beja, e nessa casa tenho já instalado de facto e a funcionar há três anos, o referido Asilo sob a denominação “Asilo da Infância Manuel Geraldo de Sousa e Castro” (…) cuja sustentabilidade tenho aprovado e continuarei a provar enquanto viver”.
No mesmo documento refere que o asilo será sempre destinado a recolher, sustentar e educar menores órfãos somente no Distrito de Beja e em número compatível com as referidas acomodações e rendimento pelas seguintes condições ou prioridades:
1 – Órfãos de pai e mãe;
2 – Órfãos de mãe;
3 – Órfãos de pai;
4 – Crianças do sexo feminino e cujos pais se encontrem em situações de miséria moral ou material tão grande que por si imponha a necessidade do seu internato.
Atualmente a Fundação Manuel Geraldo de Sousa e Castro, inaugurada a 23 de novembro de 1933, tem sede em Beja na Rua Infante D. Henrique nº 1, e continua a ser uma instituição Particular de Solidariedade Social destinada a receber crianças e jovens do sexo feminino com idades compreendidas entre os 6 e 18 anos e com capacidade para recolher 36 crianças.